Jean Renoir - Revelar os Atores a Eles Mesmos.

Achei interessante o olhar de Jean Renoir nos anos 50 sobre a produção de artistas assimilando um modo de ser no contexto de uma época em Paris. Pena que nem sombra disto venha a acontecer na convulsão cultural no Brasil.

O Titulo no seu livro é "Revelar os atores a eles mesmos".

"Acho que o método que consiste em dizer para um ator: Amigo, fique me olhando, vou representar a cena para você, então se faz uma vozinha fina, se imita uma mocinha, se faz a mímica da cena de amor e se diz: Meu amigo, você vai fazer como eu. Acho isso desastroso. Trata-se de saber como o ator faria, como ele interpretaria a cena como a própria personalidade dele, e não com a sua personalidade, não é você, o diretor, que tem que representar a cena, é o ator. Trata-se de pedir ao ator que permaneça dentro do quadro marcado por sua própria imaginação. Mas, dentro desse quadro, acho que é essencial deixar toda a liberdade ao ator.
Claro, é preciso ser sempre claro. Aproveito para abrir um pequeno parêntese: já tivemos na França e na América uma grande tendência para a obscuridade, imaginamos, por exemplo, que o fino do fino para a fotografia consitia em não se enxergar nada. Lindíssimos efeitos foram obtidos assim. Penso, entretanto, que basear todo um filme em cima de efeitos desse gênero também já é, se posso dizer, decadente. Pessoalmente, sou atraído por uma forma de cinema mais robusta que isso.

Sou então partidário de se pedir ao ator para criar essa cena (e não lhe indicar a maneira exata como ele deve filmar uma cena), de lhe pedir para se tornar o autor dessa cena. A profissão de ator é um profissão temível; é uma profissão divina, é profissão na qual pedem a você constantemente para inventar um ser humano que não existia, que não estava inteiramente formulado na idéia do outro e que você, ator, vai fazer nascer completamente. A profissão de ator é um parto constante. Vocês sabem que os partos são muito delicados. Se houver gente em volta dando gritos e aborrecendo a mãe, a criança pode sair mal. Tem-se que deixar em paz os atores que estão criando. Isso é muito importante.

Mas você pode ajudar esse trabalho de criação, do mesmo modo que o médico parteiro pode ajudar a criança a se apresentar de maneira conveniente: você pode exatamente ajudar esse parto, ajudando o ator a se encontrar ele mesmo. Quantidades de atores, principalmente no início de carreira, não se conhecem a si mesmos. Seu dever, de você, diretor, não é fazer do ator o imitador de sua personalidade, mas ajudar o ator (que talvez não a conheça) a encontrar sua própria personalidade. Corre-se naturalmente o risco de ter seríssimas discussões com os atores, seríssimas brigas porque muitos atores imaginam que são alguma coisa que não são. Tem-se que revelá-los a eles mesmos. Acho que é isso o grande dever, o grande trabalho do diretor em relação ao ator.

Muitas vezes na América, por exemplo, nos estúdios onde eu trabalhava, que a direção do estúdios me pedisse para pegar jovens da escola dramática deles. Efetivamente, nos grandes estúdios da América, há uma espécie de pequenos conservatórios; os grandes estúdios contratam rapazes e moças de todas as partes e do mundo para fazer deles futuros atores. Havia, então uma escola com professores que lhes ensinavam a representar.

Ora, todos esses rapazes e moças me chegavam no estrado com idéias geralmente deslumbrantes, magnifícas; não ignoravam nada da maneira de exprimir Hamlert, por exemplo, mas ignoravam absolutamente a maneira de andar, sentar-se ou falar, e eu passa o tempo dizendo a eles e ao professores deles: Mas, meu amigo, antes de discutir sobre a psicologia de Hamlet ou a abordagem de um ator em relação a Hamlet, comece é por ensinar a esse ator a falar, a andar e a sentar; faça com que ele tenha nas mãos as armas que lhe permitirão comunicar-se com o público, quando ele souber tudo isso, ele é que descobrirá como interpretar Hamlet, e não vocês, mas primeiro vamos aprender as bases da profissão".

Infelizmente tenho visto um processo caótico que não se enquadra nem no seu pensamento e nem ao contrário. Há uma alienação sem nenhuma coerência destes tidos como formados nas cênicas. São tão frágeis e tão arrogantes com suas produções sem ter mostrado quase nada. E isto tem todo um discurso justificando como acontecimentos no meio enquanto no contexto geral esta arte vem sendo cada vez mais depreciada pelo público que percebe toda a estrutura dos trabalhos.

Uma coisa não deve ser excluída de nossos olhares que é a inteligência do público, mesmo que ela não sabendo disto.
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